segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Psicologia e Espiritualidade



1. Introdução:












A religião representa uma das expressões mais antigas e universais da mente humana, no entanto, a ciência Psicologia a percebe como âmbito filosófico, pois as crenças estão no campo espiritual e não no material.



As manifestações religiosas e simbólicas que cercavam Carl Gustav Jung, filho de um pastor protestante, sempre lhe chamaram a atenção. Foi através de uma observação cuidadosa e atenta da análise destas representações na mente humana que ele pôde reconhecer como conteúdos arquetípicos da alma as manifestações coletivas que embasam as mais diversas religiões.



Jung foi o primeiro a estabelecer que consciente e inconsciente existiriam em um profundo estado de interdependência recíproca, sendo impossível o bem-estar de um sem o bem-estar do outro.



Jung (1993), concebia o inconsciente como que constituído de duas camadas: uma pessoal e outra coletiva. O inconsciente pessoal se constituiria por conteúdos individuais mais ou menos únicos, que não se repetiriam, e seriam formados pelas camadas mais superficiais do inconsciente, que abarcaria as lembranças perdidas, reprimidas, as percepções e impressões subliminais e os conteúdos que ainda não amadureceram para a consciência.



Segundo Jung (1993), arquétipos seriam um padrão hereditário e característico da espécie, que organiza o desenvolvimento psicológico através dos símbolos, sendo atualizados de acordo com as condições internas e externas do indivíduo. Seriam inobserváveis. Derivariam das matrizes arquetípicas, podendo assumir diversas formas e gerar as imagens arquetípicas. Estas, por sua vez, seriam imagens e/ou vivências formadas a partir de fatores e motivos denominados arquétipos, tornando possível sua observação. Arquétipos, ou imagens primordiais, seriam auto-retratos dos instintos. Temas e figuras que pertenceriam a fatores estruturais do inconsciente humano. Seriam predisposições herdadas que responderiam a certos aspectos do mundo. Suas manifestações repousariam sobre condicionamentos instintivos e nada teriam a ver com a consciência.



Agnóstico pela metafísica e gnóstico pela experiência, Jung via a religiosidade como uma função natural e inerente à psique. Chegava a considerá-la, um instinto, um fenômeno genuíno. A religião era vista mais como uma atitude da mente do que qualquer credo, sendo este uma forma codificada da experiência religiosa original.







2. Justificativa:







Já se passaram dois mil e seis anos depois de Cristo, seu maior legado foi a tentativa de nos deixar mais próximos de nossa essência, fazendo com que compreendêssemos a existência de algo superior, para muitos, sua tentativa se concretizou, no entanto, para o campo da Ciência sua tentativa ainda foi em vão, pois não há provas concretas de que realmente haja algo superior a nós.



A Ciência Psicologia estuda e trabalha com os Homens que crêem e os que não crêem em seu legado, o que faz com que nós psicólogos não possamos deixar um dia sequer de lado, ou apenas desconsiderar, a espiritualidade dentro dessa ciência que visa o bem estar físico, mental e espiritual do ser humano.



Contudo, a Ciência Psicologia, tem apenas respeitado as crenças e valores de cada paciente, agindo ainda com resistências perante a união do estudo e da prática da espiritualidade em relação a atuação científica.



O ser humano é um ser holístico, ou seja, corpo, mente e espírito e isso não pode ser negado por profissionais que visam seu bem estar em todos esses âmbitos, e sim fazer com que haja a união dos mesmos para a busca incessante de suas essências mais profundas, trazendo consigo toda a cura de que Homem necessita.



O papel do psicólogo vai além da ajuda nas resoluções dos problemas de seus pacientes, seu principal papel é ajudar seu paciente a resgatar sua essência, pois a cura é conseqüência.







3. Objetivos







3 1 Objetivo Geral



Pesquisar a importância da união da Ciência Psicologia com a Ciência Religião.







3.2. Objetivo Específico



• Analisar a importância da união da religião com a Psicologia;



• Debater sobre como a Psicologia deveria estudar e trabalhar o paciente clínico enquanto sendo corpo, mente e espírito.















4. Metodologia:











• Procedimento - A pesquisa foi feita através de uma investigação na forma de revisão de literatura.



• Instrumento – Os instrumentos utilizados foram livros referentes à Psicologia e Religião.





5. Discussão Teórica:



Jung (1991), menciona a importância da religiosidade para o ser humano, ao afirmar que as organizações ou sistemas são símbolos que capacitam o homem a estabelecer uma posição espiritual que se contrapõe à natureza instintiva original, uma atitude cultural em face da mera instintividade. Esta tem sido a função de todas as religiões.

Jung (1957), afirma que a religião exerce uma fundamental função psíquica para o homem e que a religião pode ser descrita como uma experiência subjetiva que em sua manifestação original estaria restrita à experiência individual, sendo a unidade fundamental da experiência religiosa o indivíduo. No entanto, essa consideração não ignora outras pessoas ou mesmo o ambiente no qual o indivíduo participa da experiência religiosa.



Jung (1957), dá à religião um forte enfoque subjetivo podendo considerar subjetivo a qualidade daquele que irá se sujeitar, submetendo-se a determinada experiência e, a partir de então, ganhar maior autonomia. Aliada a essa consideração, a religião deve ser assumida como um acontecimento empírico, portanto real.



Jung (1971), procura estabelecer uma abordagem que proporcione a convergência da abordagem psicológica com a temática religiosa; chegando até enfatizar que os profissionais que trabalham e investigam este campo do conhecimento humano, a Psicologia, devem deter suas investigações minuciosamente sobre o tema religião.



Jung considerava todas as religiões válidas, visto que todas recolhem e conservam imagens simbólicas advindas do inconsciente, elaborando-as em seus dogmas e, assim, realizando conexões com as estruturas básicas da vida psíquica.

Entendia o termo como religio e religare, ou seja, tornar a ligar. E via a religião exatamente com a função de ligar o consciente a fatores inconscientes importantes.

Para Jung (1971), a religião é uma atitude da mente, uma observação cuidadosa em relação a certos poderes espirituais, demoníacos, deificados; seria capaz de atrair a atenção, subjugar, ser objeto de reverência ou de passiva obediência e incondicional amor.



Jung (1991), cita que a libido que constrói imagens religiosas, representa o laço que nos liga à nossa origem. Para designar a vivência do contato com tais fatores e a forte emoção descrita pelos que a vivenciam, Jung apropriou-se do termo criado por R. Otto: numinoso. Via, então, a religião como uma observação conscienciosa e acurada do "numinoso", ou seja, um efeito dinâmico ou existência que domina o ser humano; é independente de sua vontade.



Segundo Jung (1971), “Poderíamos dizer, então, que o termo ‘religião’ designa a atitude peculiar a uma consciência, que foi mudada pela experiência do numinoso”. Portanto, a uma atitude particular alterada pela experiência de uma espécie de fluxo emocional que migraria para o plano consciente sempre que submetido a um estímulo arquetípico, por exemplo, uma imagem ou uma situação relacionadas com dado arquétipo. Assim, pode-se compreender que o conceito de religião não é defendido por Jung no sentido dogmático ou teológico, mas como experiência religiosa do divino ou transpessoal.



Jung (1991), diz que o direcionamento e a proposta das religiões está na leitura do mundo, porém de forma a criar oposições claras entre o material e imaterial, baseado num determinado sistema de sacralizações.



Jung (1991), relata que quando a autoridade, do estado ou religiosa, determina de forma autoritária os destinos e a sacralidade individual, acaba por contribuir para o surgimento do fanatismo, violentando toda e qualquer possibilidade de questionamento sobre os fatores decorrentes do processo. A dimensão da estrutura das imagens produzidas pela psique, em constante transformação e reestruturação dos arquétipos, vem a mostrar a necessidade de transcender os nossos limites e, a partir da análise interna podemos visualizar que a chamada modernidade não significa, necessariamente, o domínio do homem sobre a natureza, os fatos são outros, ou seja; o retrato do orgulho na grandeza humana demonstra o quanto estamos limitados às nossas fraquezas e precisamos aprender com o nosso auto-conhecimento.



Jung (1971), cita que, a partir de suas próprias experiências e das experiências de seus pacientes, foi percebendo que, além das memórias pessoais, estão presentes no inconsciente de cada indivíduo um outro tipo de fantasia: as constituintes das possibilidades herdadas da imaginação humana. Tais estruturas, inatas e capazes de formar idéias mitológicas, foram denominadas arquétipos. O mundo dos arquétipos é o mundo invisível dos espíritos, deuses, demônios, vampiros, duendes, heróis, assassinos e todos os personagens das épocas passadas da humanidade sobre os quais foi depositada forte carga de afetividade. Essa descoberta significou o reconhecimento de duas camadas no inconsciente: a pessoal e inconsciente coletivo.



Para Jung (1924), Nós já nascemos com o inconsciente coletivo e criamos o inconsciente pessoal depois do nascimento. O inconsciente coletivo é a camada mais profunda do inconsciente e corresponde a uma imagem do mundo que levou eras e eras para se formar. Nessa imagem cristalizaram-se os arquétipos ou as leis e princípios dominantes e típicos dos eventos que ocorreram no ciclo de experiências da alma humana.



Jung (1971), cita que entre todos os seus doentes na segundo metade da vida, isto é, tendo mais de 35 anos, não houve um só cujo problema mais profundo não fosse constituído pela questão de sua atitude religiosa. Todos, em última instância, estavam doentes por terem perdido aquilo que uma religião viva sempre deu em todos os tempos a seus adeptos, e nenhum curou-se realmente sem recobrar a atitude religiosa que lhe fosse própria. Isto, é claro, não depende absolutamente de adesão a um credo particular ou de tornar-se membro de uma igreja.”



Jung (1971), atribui à confissão religiosa um papel importante na sociedade humana: baseando-se originalmente na experiência do numinoso, ela viabilizaria o acesso ao sagrado, simultaneamente porém, exerceria uma função protetora entre o fiel e aquilo que ele experimenta como sagrado. O fiel pode não estar inteiramente preparado para o que o autor define como experiência imediata ou primordial. Jung se refere com este termo a uma vivência articulada com uma imagem arquetípica anterior a qualquer elaboração consciente ou interpretação. Podemos, desta forma, compreender a experiência primordial como experiência imediata, uma experiência ainda não traduzida pela consciência. Segundo Jung, os aspectos principais do arquétipo seriam sua numinosidade, inconsciência e autonomia. O contato com as imagens de origem arquetípica transportaria “o sujeito para o estado do arrebatamento, numa entrega em que a vontade está inteiramente ausente”. Desta forma uma confissão religiosa pode desempenhar uma função mediadora entre o sujeito e a e a sua vivência, substituindo esta por um grupo adequado de símbolos envoltos em dogmas e rituais fortemente organizados.



Existiria então a possibilidade do uso da Ciência Psicologia desligada da Ciência Religião?



Jung (1971), afirma que a confissão religiosa constitui de certo modo um “sistema de cura religioso”, relata que, como psicoterapeuta, ele se viu diante de indivíduos que passaram por experiências imediatas mas não queriam ou podiam se submeter à decisão da autoridade eclesiástica, experimentando violentas crises e conflitos. O autor afirma estar convencido da importância do dogma e do ritual pelo menos como “métodos de higiene espiritual”. Quando um paciente pertence a uma confissão específica que lhe confere sentido à vida, Jung considera imprescindível apoiar tal decisão, caso contrário o paciente estaria completamente desprotegido frente à experiência imediata. Enquanto um meio de defesa se mostra eficaz, Jung não pretende derrubá-lo e chega a declarar durante um seminário em 1939: “O meu ponto de vista é que enquanto um paciente realmente é membro de uma igreja, ele precisa levar isto a sério. Neste caso deve realmente e sinceramente pertencer a esta igreja, e não procurar um médico para que este resolva os seus conflitos, já que considera que deve fazer isto com Deus”.



Segundo a carta de Bill W. a Jung (1961), dizia que era um dos co-fundadores das sociedades dos Alcoólicos Anônimos, e que com certeza ignorava que uma conversa que manteve com um paciente nos anos 30, havia tornado uma das regras fundamentais de tal sociedade.



Quando teve este paciente esgotado todos os recursos para livrar-se do alcoolismo, tornou-se em 1931 seu paciente, estando sob seus cuidados por mais ou menos um ano; após este tempo deixou-o cheio de confiança e admiração pelo senhor. Contudo retornou ao velho hábito, convencido que o senhor era sua salvação, voltou ao tratamento. Quando ele lhe perguntou se não haveria esperança para ele, o Senhor lhe respondeu que poderia haver sim e que esta seria a de tornar-se o sujeito de uma genuína experiência espiritual ou religiosa, que tal experiência poderia motiva-lo mais que qualquer outra. No entanto eram raras, e recomendou-lhe que se colocasse em uma atmosfera religiosa e que esperasse.



Este seu paciente Mr. Rowland juntou-se a um movimento evangélico e encontrou a experiência de conversão.



Como o Senhor resgatou o Mr. Rowland, o Dr. Willian também me resgatou, quando eu tive essa experiência desesperado eu gritei:“Se existir um deus, que ele se mostre para mim”. Imediatamente, uma iluminação de enorme impacto e dimensão envolveu-me, uma coisa extraordinária que tentei descrever no meu livro Alcoholics Anonymous, bem como em “A.A. Come of Age”, textos básicos que lhe estou enviando agora. Meu desligamento da obsessão pelo álcool foi imediato. Senti que me havia tornado um homem livre. Durante a minha experiência religiosa tive a inspiração de uma sociedade de alcoólicos em que cada um se identificasse com o outro e lhe transmitisse a sua experiência, em uma espécie de cadeia.



Este conceito provou ter sido a base de posteriores conquistas dos alcoólicos anônimos. Isto fez com que as experiências da conversão, quase tão múltiplas quanto as citadas por W. James se tornassem disponíveis em larga escala. Nossos associados somavam no último quarto de século o número de 300.000.



Na América e através de todo o mundo eles chegam a formar 8.000 grupos de A. A.

Assim sendo, nós do A. A. fomos extremamente beneficiados pelo Senhor, pelo Dr. Shoemaker do Oxford Group, por William James e pelo nosso amigo, o médico Dr. Silkworth.



Como vê o Senhor claramente agora, esta espantosa cadeia de acontecimentos realmente começou há muitos anos, na sala do seu consultório e foi desencadeada pela sua humildade e profunda percepção. Muitos elementos do A. A. são estudiosos de sua obra. O Senhor endereçou-se especialmente em sua direção devido a sua convicção de que o homem é mais que o intelecto, as emoções e dois dólares de medicamentos.



Resposta da carta de Jung, para Bill W.(1961), a sua carta foi-me realmente bem vinda. Não tive mais notícias de Rowland e muitas vezes desejei conhecer seu destino.



O diálogo que mantivemos, ele e eu, e que ele muito fielmente lhe transmitiu teve um aspecto que ele mesmo desconheceu. A razão pela qual não pude dizer-lhe tudo foi que naquela época eu tinha que ser excessivamente cuidadoso com tudo o que dizia. Eu havia descoberto que estava sendo de todas as maneiras mal interpretado.

Portanto, tive que ser muito cuidadoso ao conversar com Rowland H. Mas o que eu realmente concluí sobre o seu caso foi o resultado das minhas inúmeras experiências com casos semelhantes ao dele, A sua fixação pelo álcool era o equivalente, em nível mais baixo, da sede espiritual do nosso ser pela totalidade, expressa em linguagem medieval, pela união com Deus.Como poderia alguém expor tal pensamento sem ser mal interpretado em nossos dias? O único caminho correto e legítimo para tal experiência é que ela aconteça para você na realidade e ela só pode acontecer se você procurar um caminho que o leve a uma compreensão mais alta. E você poderá ser conduzido a esta meta pela ação da graça, pela convivência pessoal honesta com os amigos ou através de uma educação mais alta da mente, para além dos limites do mero racionalismo. Vi pela sua carta que Rowland H. escolheu a segunda opção que, nas suas circunstâncias era, sem dúvida, a melhor.

Estou firmemente convencido de que o princípio do mal prevalecente no mundo conduz as necessidades espirituais, quando negadas à perdição, se ele não for contrabalançado por uma experiência religiosa ou pelas barreiras protetoras da comunidade humana. Um homem comum desligado dos planos superiores, isolado de sua comunidade, não pode resistir aos

poderes do mal, muito propriamente chamados de demônio. Mas o uso de tais palavras nos leva a tais enganos que temos que nos manter afastados delas, tanto quanto possível.

Eis as razões porque não pude dar a Rowland H. plena e suficiente explicação. Estou arriscando-me a dá-las a você por ter concluído pela sua carta decente e honesta, que você já adquiriu uma visão superior do problema do alcoolismo, bem acima dos lugares comuns que, via de regra, se ouvem sobre ele. Veja você, “álcohol” em latim significa “espírito”, e você, no entanto, usa a mesma palavra tanto para designar a mais alta experiência religiosa como para designar o mais depravador dos venenos. A receita então é “spiritus” contra “spiritum”.



Conforme Jung (1971) cita, “Psiquicamente, não nos encontramos suficientemente desenvolvidos para compreendermos a extraordinária verdade do ritual e do dogma. Por isso determinados dogmas não deveriam jamais ser criticados”. Jung utilizava os termos "Deus" ou "divindades" no contexto simbólico, como explica: "Ambos se encontram como tais muito além do alcance humano. Revelam-se a nós como imagens psíquicas, isto é, como símbolos." E as pessoas realizam os ritos porque "No rito estão próximas de Deus; são até mesmo divinas."



Jung (1971), “se comprovo que a alma possui naturalmente uma função religiosa, e se levo adiante a idéia de que a tarefa mais distinta de toda a educação (do adulto) é tornar consciente o arquétipo da imagem divina e seus respectivos efeitos e difusões, a teologia vem sobre mim e tenta me dirimir do“psicologismo”. Se na psique não existissem grandes valores referentes à experiência (sem prejuízo do já existente antinomon pneuma ), a psicologia não me interessaria nem um pouco, já que a psique seria, então, nada mais que um deserto miserável. Mas com base em centenas de experiências sei que ela não é assim. Ao contrário, ela contém o correlato de todas aquelas experiências que formularam o dogma, e ainda mais alguma coisa que a torna capaz de ser o olho definido para ver a luz. (...) Acusaram-me de “deificação da psique”. Foi Deus, e não eu, quem a deificou! Não fui eu quem criou para a alma uma função religiosa. (...), somente expus os fatos que comprovam que a alma é naturaliter religiosa , (...)”.



Segundo Paiva (2002), Ciência e Religião têm sido um binômio problemático em algumas áreas da cultura ocidental moderna. O acréscimo da Psicologia a esse binômio tem o sentido de destacar a extensão da ciência natural e biológica para a ciência humana e de apontar a dimensão psicológica que vincula o cientista à religião e o religioso à ciência.



Para Paiva (2002), de alguma forma, ciência e religião têm sido relacionadas como entidades em conflito. No entanto, as relações entre ambas não foram sempre conflituosas, nem na área acadêmica nem na área religiosa.



Em relação à Psicologia a questão religião/ciência assume diversas feições. A Psicologia tem uma dimensão que a aproxima das ciências naturais e biológicas e outra dimensão que a aproxima das ciências históricas e hermenêuticas. Exemplos nítidos seriam a neuropsicologia e a psicologia cognitiva da inteligência artificial, de um lado, e, de outro, a psicanálise e as diversas psicoterapias. Em relação à religião e à busca de sentido, a psicologia encontra-se mais vizinha na dimensão histórico-hermenêutica, onde, assim como a religião, "produz conhecimento, desperta motivação e muitas vezes leva à transformação pessoal, cita Paiva (2002).



Paiva (2002), coloca que hoje alguns pesquisadores americanos e europeus, significativamente ligados à Psicologia da Religião, discutem não é, exatamente, a perda e o esforço de recuperação da alma na sua denotação religiosa, especificamente cristã, mas a perda e o esforço de recuperação do âmago profundo da pessoa. Obviamente, a familiaridade com as referências religiosas poderá ter facilitado a esses pesquisadores a percepção do problema psicológico. É também verdade que na atividade de psicoterapeutas e conselheiros mais de uma vez o plano religioso e o plano psicológico se terão confundido.



E que essa confusão tem suscitado veementes oposições de natureza teórica e de natureza operacional, uma vez que, para muitos estudiosos, a relação religiosa, conquanto sustentada no psíquico, se distingue essencialmente, na intenção, dos processos psicológicos e, no caso da psicoterapia e do aconselhamento, das psicopatologias que provocam justamente a solicitação desses recursos profissionais.



Segundo Dantas (1999), a questão da religiosidade vem ganhando reconhecimento como tema de pesquisas em psiquiatria. Não obstante, revisões sistemáticas de estudos publicados em importantes jornais psiquiátricos indicam que a variável religiosa é raramente investigada e, quando isso é feito, revela-se geralmente uma abordagem metodológica e conceitual inadequada. Além disso, vários autores têm chamado a atenção para uma excessiva e, eventualmente, preconceituosa associação feita entre religiosidade e psicopatologia na literatura psiquiátrica.



Para Dantas (1999), a perspectiva de muitos autores da chamada "Psiquiatria Cultural" (Kleiman, Leff, Good, etc) indica que a religião cumpre duas tarefas culturais e psicológicas fundamentais: possibilita a construção de um mundo possível, de uma ordem plausível e aceitável, dando um sentido ao caos fenomênico da experiência; e, em segundo lugar, permite ao homem sofrer, isto é, que o sofrimento tenha uma determinada forma, um determinado sentido.



Assim, numa perspectiva das ciências sociais e psicológicas contemporâneas, a religião não é mais vista como simples sistema defensivo ou de alienação. Seu papel como instituição social, organizador da experiência subjetiva, tem sido enfatizado tanto por cientistas sociais como por pesquisadores das áreas de saúde mental. A maioria dos trabalhos aponta para uma associação benéfica entre religiosidade e saúde mental, diz Dantas (1999).



Ele ainda salienta que a conversão a um grupo religioso e a realização de rituais religiosos foram relacionados com menores índices de estresse e com melhora no bem-estar psicológico, medidos através de escalas padronizadas, em estudos tanto retrospectivos quanto prospectivos.







6. Referências Bibliográficas:







DANTAS. C. R. Sintomas de conteúdo religioso em pacientes psiquiátricos. Disponível em:



. Acesso em: 30/09/2006.



JUNG, C. G. Psicologia e religião. Petrópolis: Vozes, 1971.







JUNG, C.G. Presente e Futuro. Petrópolis: Vozes, 1957.







JUNG, C.G. Presente e Futuro. Petrópolis: Vozes, 1991.







JUNG, C.G. Psicologia e Religião Oriental. Petrópolis: Vozes. 1991.







JUNG, C.G. Psicologia do Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 1993.



PAIVA, G. J. de. Ciência, religião, psicologia: conhecimento e comportamento. Disponível em:



. Acesso em 30/09/2006.



Acesso em: 30/09/2006



PAIVA, G. J. de. Perder e recuperar a alma: tendências recentes na psicologia social da religião norte-americana e européia. Disponível em:



. Acesso em 30/09/2006.



Acesso em: 30/09/2006



RAMOS, D. G. Spiritum contra Spiritum A Correspondência entre Bill Wilson e C. G. Jung. Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. V. 12,p.10-13, s.d.







Autoria: Flávia Maina Fernandes Camargo

Por uma ética dentro da estética: uma análise da obsessão pela beleza sob a ótica da Psicologia Junguiana.








Por uma ética dentro da estética: uma análise da obsessão pela beleza sob a ótica da Psicologia Junguiana.







GREGHI, Mônica P. K.1



FERNANDES, Flávia2



HERNANDEZ, Flávia3



MARQUES, Mônica T.4









Instituto de Psicologia Junguiana de Bauru e Região











Resumo: O presente trabalho tem por objetivo refletir, sob a ótica de conceitos Junguianos, acerca do fenômeno crescente da obsessão pela beleza física. É cada vez mais freqüente, notadamente entre a população feminina, uma preocupação excessiva com a estética do próprio corpo, constituindo-se esta, num motivo crescente de busca por auxílio psicológico. Considerado atualmente uma verdadeira “patologia cultural”, este fenômeno põe em cheque a autonomia feminina que se vê diante de grilhões outros - não mais os das tarefas domésticas - mas sim, os da perfeição estética a qualquer preço, mesmo que isto incorra em adoecimento físico e psíquico. Não descartamos a importância de procedimentos estéticos na promoção da qualidade de vida, nem é nosso intuito questionar tais áreas, apontamos para as desmesuras e o exagero. Procuramos repassar historicamente a literatura acerca da evolução do conceito cultural, mítico, filosófico e psicológico do feminino e do papel do corpo enquanto ícone estético e representativo-simbólico deste “ser-mulher-metamorfose”. Finalizamos propondo uma reflexão por parte dos profissionais de saúde acerca de uma atuação ética dentro dos serviços estéticos.



Palavras-chave: Beleza, feminino, estética, dismorfismo.















1.A mulher na mitologia: deusas belas ou inteligentes







Mesmo compreendendo que a mitologia representa faces arquetípicas de um todo, não podemos deixar de salientar um aspecto intimamente relacionado ao temo desde trabalho: o da existência de uma divisão entre as deusas da inteligência/ação (Athenas e Arthemis) e da beleza.



Temos Afrodite, deusa da beleza, a ela associadas às artes, as flores, a poesia. Nasce do esperma do pai em união com as águas do mar. Sua origem já associa a beleza à sexualidade. No pólo oposto, representando a inteligência, o pensamento, a civilização e a guerra, temos a deusa Athena. Ela nasce da cabeça de seu pai.



Sua origem associa a inteligência ao masculino. Uma deusa tão sábia não pode nascer do corpo da mãe? Ou de outra parte do corpo do pai, como Afrodite? Assim, a deusa inteligente fica a dever seus dons à “cabeça do pai”. Isto demonstra, mesmo na mitologia, a desvalorização da inteligência da mulher. (Andrioli, 2003)







2 . A mulher e a filosofia: a dicotomia entre o belo e o sábio







Foi durante o séc. XVIII que surgiu pela primeira vez na filosofia a definição da tríade metafísica, a qual Platão denominou “Erótica”, dos inseparáveis conceitos “belo-bom-verdadeiro”. Tais conceitos eram atribuídos ao feminino, que, no entanto, conservava-se apartado do mundo das idéias. As mulheres que empreendiam seus vôos em ares filosóficos eram olhadas com maus olhos e tornavam-se alvo de piadas. (Tiburi, 2006).



Para elas, criam-se os ramos “não-eidéticos” - (aisthésis), preocupação da filosofia com a estética e as sensações. Era composto por atividades ligadas às artes visuais e sensoriais, tendo como representante a mulher.



Cria-se, assim, a dicotomia entre o belo e o sábio. À mulher cabia ser e lidar com o belo. Ao homem cabia explorar e representar o conhecimento. O pensamento vigente entre os filósofos da época era: à mulher é permitido uma mente e um corpo belo, “mas não os dois simultaneamente”. Temos em Kant: “Uma mulher que tem a cabeça cheia de grego, ou que disputa sobressaltadamente sobre temas de mecânica, só lhe falta a barba para expressar melhor a profundidade do espírito que ambiciona”. (Rosencranz citado por Tiburi, 2006).



Assim, desde os primórdios da filosofia, a mulher foi apartada das suas habilidades intelectuais em nome daquele que deveria ser o seu “talento maior”: o de ser bela. A ela, restava a beleza, as artes e a maternidade.



A construção deste ser feminino, ligado somente a um conceito de corpo objetivou a transformação das mulheres no “belo sexo” .







3 . A mulher burguesa: a beleza como status







A partir da Revolução industrial fez uma separação: temos a mulher burguesa linda, “bem tratada”, pele alva, mãos impecáveis. Ela deveria representar socialmente o nível de posses do esposo. Sua pele alva e macia apontava para uma vida sem trabalhos, contrastando com as das operárias “descuidadas e feias”. Seus adornos apresentavam o grau de riqueza familiar e sua prole extensa atestava a virilidade do esposo.



Temos a “mulher estandarte”, que já se encontra perdida de sua essência, assumindo papéis a ela atribuídos por um inconsciente coletivo. Tal mulher tinha por mérito apresentar uma casa impecável, filhos lindos e saudáveis, capacidade de ordenar suas governantas (pois a ela era negado o direito de executar trabalhos domésticos, a não ser leves bordados, pinturas, etc.) e tornar seu lar um recanto feliz para o esposo.



Caso contrário ela estaria “errada”, fora dos padrões.







4 . A mulher se desenvolve: a beleza como prisão







A mulher inicia sua conquista por um lugar ao sol. Buscou direitos sobre seu corpo – a pílula anticoncepcional -, direitos sobre sua autonomia – não mais é obrigada a ser mãe, nem, sequer, a se casar -, direitos sobre seus caminhos e realizações pessoais – ascensão ao mercado de trabalho. Sem contar com o direito civil, que a torna cidadã – a opinião da mulher-decorativa começa a ser levada em conta.



Surge uma mulher independente do homem. Nasce uma ferida no patriarcado. A mulher não carrega mais o fardo de estar “sempre, de alguma forma, errada”.



Contudo, o patriarcado ferido tenta limitar o crescimento feminino e, com medo de perder o poder, incute na mulher que ela “novamente está errada”. Temos em RUSSO (RUSSO citado por TOMMASO, 2005) que:







“A mulher não perde mais noites de sono preocupada com o que vais servir no jantar, mas, perde horas e horas “puxando ferro” na academia. Fica maluca se encontra uma celulite ou se engordou três kilos." (p.3).







Sem perceber, a mulher obedece aos padrões estéticos, cegamente, e este passa a constituir-se em uma nova prisão.



O patriarcado reproduz o discurso dos filósofos da antiguidade: “À mulher é permitido uma mente e um corpo belo, mas, não os dois simultaneamente” (Rosencranz apud Tiburi, 1996).







5. A mulher no capitalismo: a beleza como bem de consumo







Atrelado ao interesse de se limitar o desenvolvimento feminino, surgem as grandes marcas cosméticas. A indústria da beleza nasce como uma grande produtora de ilusões e de dinheiro. A beleza passa a ser um bem de consumo. A mulher precisa comprar desenfreadamente para manter-se jovem para não ser descartada. Numa sociedade onde a tecnologia descarta dia após dia o que já foi superado, vale tudo: cremes, dietas, simpatias, choques, apliques, e cirurgias.



A mídia reforça, cada vez mais, a noção de que o sucesso está atrelado à magreza e à "boa aparência". Segundo TOMMASO5 (2005): "A imensa maioria das heroínas de tevê é excepcionalmente magra. As que estão acima do peso ocupam papéis jocosos ou caricatos“.



Se percorrermos as revistas femininas atualmente, vemos um apelo assustador pela beleza acima de qualquer coisa:







“Aprenda a fazer em casa a escova de chocolate e fique com cara de rica” (revista “Ana Maria”, Setembro, 2006).



“Ao deixar meus cabelos ao natural na novela, eu estou libertando muitas mulheres que achavam que rica só tinha cabelo liso” (Ana Paula Arósio, revista “Veja”, Outubro, 2006).



“Você também pode ter a pele igual às das famosas, gastando pouco, nós ensinamos como” (revista “Conta Mais”, Setembro, 2006).







6. Patologia cultural: ser belo a qualquer preço







É notável nos consultórios dos psicólogos e psiquiatras brasileiros, o incremento do número de patologias relacionadas à obsessão pela beleza. Temos desde uma insatisfação estética com o corpo, desencadeando problemas de auto-estima e até transtornos graves, como os transtornos alimentares - bulimia e anorexia – transtornos dismórficos – gerando verdadeiras deformidades por abuso de cirurgias.



Uma pesquisa realizada pela Unilever-Dove com 3.200 mulheres entre de 18 e 24 anos em 10 países revelou que apenas 2% delas se definem como belas. No Brasil, esse índice cai para 1%. (TOMMASO, 2006).



Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica indicam nosso país como o segundo do mundo onde mais se realizam cirurgias desse tipo (estéticas), 13% só em adolescentes – no ano de 2003, foram 94.845 nessa faixa etária, sendo que mais da metade corresponde a operações estéticas, que não estão relacionadas à saúde física. (TOMMASO, 2006).



Na busca de integração de padrões estéticos, mulheres, sobretudo as adolescentes, prejudicam o seu organismo submetendo-se a regimes espartanos, desde cedo.



Uma modelo6, em entrevista na mídia, afirmou que foi criada para ser modelo: ao nascer sua mãe já havia traçado o seu destino. Ela tinha vontade de ser professora, mas virou top como queria a mãe. Na infância não podia fazer muita coisa. As refeições eram controladas, as brincadeiras monitoradas. 'Nem brincar de bicicleta eu podia, para não me machucar e ficar com cicatrizes. '“



Recentemente, assistimos ao triste episódio de uma modelo “morrer de fome”, com anorexia. A anorexia atinge 1,2% das meninas adolescentes sendo que, dessas, 1 em 10 morrem por desnutrição, parada cardíaca ou suicídio. A grande maioria das pessoas que sofrem transtornos alimentares (90%) é adolescente e mulheres jovens. (ABULIM7, 2006). Temos um depoimento de uma ex-anoréxica:





"Nem lembro bem quando tudo começou. Esse é um processo longo,

sempre tinha inveja quando olhava a barriga das modelos nas revistas, quando via um desfile. “Ainda vou à barriga assim’”. Pensava. (...) Estava com 47 kg e 1,58m quando comecei. (...) Cortei todos os doces, guloseimas, salgados e gorduras do cardápio, mas continuava tomando leite (um iogurte desnatado light), carboidratos (2 fatias de pão light), e comprava quase todos os produtos diet e light que encontrava. Quando dormia, nos sonhos só me via como uma pessoa obesa, onde tudo o que tocava (inclusive coisas inanimadas, como armários) inchavam. Todos a minha volta eram gordos.(...) Outros médicos foram tentados, mas eu simplesmente os odiava, já que todos diziam que eu estava com anorexia, algo no qual eu não podia acreditar. 0 inverno havia chegado, o frio era grande e não havia como me esquentar. Bolsas de água quente ou mesmo muitas cobertas não adiantavam, já que eu não produzia calor próprio. Meu cabelo estava caindo e me sentia fraca, mas nem por isso desistia das dietas e dos exercícios físicos. Já não conseguia me levantar da cama ao amanhecer, sempre desmaiava. Mas, PRECISAVA emagrecer, ter a barriga das modelos. Minha família, claro, começou a perceber que estava comendo muito pouco, então minha mãe resolveu me levar a uma psicóloga. Não me contive, comecei a chorar. Não queria ir pois tinha medo que ela me mandasse comer mais. (...) Então ela me falou: "Você esta com anorexia. Ainda não é grave, mas vamos sair dessa?‘(...) Não queria mais sair com medo que tivesse que comer algo calórico. (...)Com o tempo me acostumei, cai em mim, o remédio do Hamilton me havia feito engordar um monte, mas não sentia raiva dele. Já estava bem melhor. Ou pelo menos achava que estava. Voltei a crescer, a ovular, a ter disposição e minha felicidade não se resumia a massa corporal, como antes.

Mas isso me serviu, como tudo na vida, foi uma experiência. Talvez se não tivesse passado por isso, nunca teria visto meu pai chorando, e nunca teria descoberto que ele me ama." (WWW. Abulim.com.br)







7. A medicina NÂO é a vilã







Gostaríamos de ressaltar que as inovações e as cirurgias estéticas são importantes para a qualidade de vida das pessoas que as procuram com queixas fundadas em padrões realísticos de estética e saúde física. A medicina estética não é a vilã desta história. Ao contrário, a possibilidade de se poder aperfeiçoar o corpo humano é fantástica. Há casos, inclusive, em que se devolve a dignidade para a vida (deformidades, doenças, acidentes, etc.). Poder envelhecer bem, o mais sensatamente belo possível, é ótimo. Sentir-se belo e procurar a beleza é um direito de todos.



O que questionamos aqui é o abuso de tais procedimentos, por parte do paciente e com a anuência de alguns médicos.







8 . No vazio da essência, busca-se a aparência.







Vivemos um descarte de valores essenciais da natureza humana, em nome de consumismos e aparências. Vivemos também, numa sociedade em que ocorreu um descarte de valores de outras instituições tais como a família, a comunidade religiosa, o convívio entre os amigos...



É difícil viver na “falta” de algo e procuramos, rapidamente, substituir o que nos falta. Mas, muitas vezes, a não consciência do que nos falta, nos leva a buscar ilusões, sob véus de sucesso, fama e dinheiro. Nesta busca por substitutos de valores perdidos, o corpo belo passa a exercer um papel por demais idealizado.



As modelos se apresentam como “deusas” aos olhos das pessoas, mas, talvez, só recentemente estejamos tendo acesso ao “inferno” (e não ao Olimpo) no qual elas vivem:



Os 10 mandamentos da nova modelo8:



1º)Ser muito magra;

2º)Não ter curvas;

3º)Usar cabelo curto e desfiado;

4º)Tingir o cabelo de loiro, sem mechas;

5º) Clarear a sobrancelha para parecer mais pálida;

6º) Fugir do sol;

7º) Não usar maquiagem para ressaltar a palidez do rosto;

8º) Desfilar sem rebolar e sem marchar;

9º) Não dar a quebradinha no fim da 10º) Desfilar com jeito de menino, com atitude desleixada.







Num concurso para escolher as novas paquitas, da Xuxa. Entre 8.492 candidatas, somente 8 realizaram seu sonho. Dentre elas, uma menina de 9 anos diz que abusa da bicicleta ergométrica para manter a forma. Outra vencedora acaba de perder 2 dentes de leite e, até que eles nasçam, tem que posar de perfil para as fotos, o que nos revela uma criança tentando se esconder por trás do papel de moça.







9. A busca obsessiva pela beleza e juventude: uma ótica Junguiana







A natureza tem seu urso. È de se supor que o homem bem integrado com a natureza consiga entender tal curso e inserir-se nele.



Ao definir o processo de individuação, JUNG (2001) esclarece que aquele que já teve resolvida grande parte da tarefa da individuação sai de seu isolamento e dirige-se ao coletivo, não se confundindo com ele, mas, a ele se se integrando.



À idéia de coletivo insere-se também a dos ciclos naturais de desenvolvimento e crescimento do indivíduo, uma vez que este deva ceder seu lugar no mundo a novos ciclos vitais, quando o seu já estiver cumprido.



Assim, o homem que reluta em cumprir tal ciclo, teima com o tempo, luta contra o seu ciclo, não quer envelhecer.



Podemos associar a relutância do homem moderno em envelhecer e cumprir seu ciclo vital – ainda mais notadamente projetada na mulher, mas que vem se estendendo para os homens – à incapacidade de cumprir suas tarefas de individuação.



BYINGTON, (1987), refere que o corpo e os seus ciclos são grandes regentes da nossa individuação. Perder de vista o ritmo corporal é perder-se do próprio ritmo existencial.



Não se pode lutar insanamente contra a passagem do tempo, expressa no corpo e no envelhecimento, sem que se percam os rituais de passagem.



Acerca da importância doa rituais, JUNG (2001) salientou que eles facilitam a constelação de arquétipos essenciais para a individuação. O fio branco de cabelo não indica decadência, mas, ritualiza uma nova etapa da individuação. Tudo depende do modo como a cultura e o indivíduo concebem tais símbolos.



Nossa cultura associou as demarcações físicas do envelhecimento a símbolos de decadência e doença.



JUNG (1997) também assinalou a importância de o homem inserir-se na segunda metade da vida, após a tão intensa metanóia, que vai possibilitar que ele reveja o que lhe faltou na fase mais jovem e parta em busca de sua completude.



Trata-se de uma fase de centroversão, na qual a libido é dirigida a valores internos, essenciais, mais distantes do físico. O corpo continua importante, obviamente, porém, é relegado a um segundo plano – valores espirituais, segundo JUNG (1997), tomam a linha de frente na energética da psique.



Em termos arquetípicos, deixa-se de lado o Herói, e procura-se valores do Velho Sábio.



Nossa cultura denuncia a falência de tal ciclo, na medida em que promove a perpetuação do Herói em detrimento do Velho sábio.



E segue o homem moderno sem conseguir inserir-se em valores da segunda metade da vida, fase de emersão de outros valores além da beleza do corpo.



A primeira metade da vida também é muito demarcada pela importância da persona. Ser aceito e amado garante ao homem maiores oportunidades de sobrevivência e sucesso – valores proeminentes desta fase.



Nossa cultura valoriza o jovem e o belo. Numa sociedade que funciona ao ritmo dos computadores, o “bit-corpo” é retocado e renovado a cada dia. Aquele que for incapaz de seguir seu curso de individuação terá, portanto, na cultura atual um enorme reforçador para que se mantenha eternamente atrelado à obrigatoriedade de se apresentar jovem e belo. Não é suficiente para ele ter “idéias jovens e belas”, ao contrário, como o heróico personagem da primeira metade da vida, ele precisa concretamente apresentar-se jovem e belo.



Tal indivíduo é incapaz de conceber-se dentro de um processo natural de envelhecimento físico, ao qual segue em paralelo um crescimento espiritual, se tudo correu a contento.



O abuso de procedimentos estéticos, portanto, nos aponta para a identificação com uma persona que teima em não ceder à passagem do tempo. O indivíduo apresenta-se ao mundo insistindo em ter uma aparência cronologicamente deslocada, ou, como diria JUNG (2001) acerca dos complexos autônomos, com uma aparência “fora de tom”.



Por isso a busca obsessiva pela beleza física, uma vez iniciada, não parece ter fim. Tal busca se constitui num complexo autônomo, que briga com o ciclo metanóico, tal como Chronos, que devora seus filhos para que não haja sucessão do seu trono, devora outras possibilidades de desabrochar do homem e do seu ciclo natural.







10. Considerações finais







Propomos uma reflexão por parte dos profissionais de saúde acerca do seu papel nesta busca obsessiva de muitos de seus pacientes pela inserção em padrões estéticos desumanos e irreais. Esta reflexão é necessária ao psicólogo que precisa perceber o quanto o desejo de seu paciente pertence a ele, genuinamente e o quanto se trata de uma exigência coletiva na qual aquele ser luta, sofregamente, para inserir-se.



Passa pelos consultórios de nutricionistas, que necessitam detectar se a dieta aconselhada está sendo seguida em nome da saúde ou da estética. Passa pelo médico, notadamente pelo cirurgião plástico, que urge detectar se o pedido de transformação estética tem bases realísticas ou se trata de uma metamorfose em busca de amor e aceitação. O cirurgião plástico é um elemento essencial na busca por uma atitude ética na área da estética.



Para aqueles que temem a passagem do tempo, preocupados em demasia com sua aparência, propomos que tentem um novo olhar, que ampliem seus horizontes em relação ao seu valor como indivíduo e ao dos que os cercam. Parafraseando Saint-Exupery, “o essencial é invisível aos olhos”.



Finalmente, uma reflexão se faz necessária na mídia: o homem é um ser multifacetado, possui inúmeras qualidades. A beleza é uma delas. Não teríamos outros tantos aspectos a serem explorados?



Na mitologia grega, Afrodite – amais bela das deusas - desposa Hefesto, homem coxo e feio. Tal situação nos aponta para o métron9 que falta na busca da perfeição estética: o belo precisa “desposar o feio”. Nas palavras de Tiburi, (2006):



“O Paradoxo a ser enfrentado é o de que a única coisa bela é aquela que não é totalmente bela”. (p.3)























































Referências Bibliográficas















ANDRIOLI, L. A. A mulher na história da filosofia: uma análise na perspectiva.



da corporeidade. Revista Espaço Acadêmico – Nº58 – Março de 2006









BYINGTON, C. A. Dimensões simbólicas da personalidade. São Paulo, Ática,



1988.









JUNG, C. G. A Natureza da Psique. Rio de Janeiro, Vozes, 1997.









---------------------- O Eu e o Inconsciente. RJ, Vozes, 15ª ed., 2001.







TIBURI, M. Esboço de crítica sobre as relações entre Metafísica, Estética e



Mulheres na Filosofia. IGT na Rede Nº5 (www.igt.psc.br), Rio de Janeiro,



V 3, N 5, Agosto de 2006.







TOMMASO, 2005. Distúrbios alimentares. www.andi.org.br































1 Psicóloga Ms, Professora e Supervisora Clínica Junguiana - greghi23@uol.com.br



2 Psicóloga Clínica Junguiana - flaviahfernandes_9@hotmail.com



3 Psicóloga Clínica Junguiana - flavia_hernandez@hotmail.com



4 Psicóloga Clínica Junguiana - smonika@uol.com.br



5 Marco Antonio De Tommaso, psicólogo e membro da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade – SP.







6 Por motivos éticos, ocultaremos referência à identidade da modelo.



7 Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas – SP.



8 Revista “Capricho”, Julho de 2001.



9 Conceito grego relacionado à idéia da justa medida, a ausência de exageros.

Psicologia Analítica

 Dentre os primeiros exploradores do inconsciente, o suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) é certamente um dos mais contraditórios. Por um breve período --de 1906 a 1913, aproximadamente-- procurou aliar forças com Freud, de quem depois se separou para seguir seu próprio caminho. Jung criaria uma escola de pensamento que tem sido ampliada e praticada por muitos, ao redor do mundo.




No entanto, sob certo ponto de vista, ele é um marginal. No Brasil, sua inserção nas universidades existe, mas é pequena em relação às outras escolas de psicologia. Nas livrarias, as obras de seus seguidores são colocadas com freqüência nas estantes de autoajuda. Ainda hoje é considerado místico, confuso, simpatizante do nazismo e bígamo. Quanto de verdade existe nessas afirmações?



Jung acreditava que toda teoria é produto da equação pessoal de seu criador; portanto, sabia dos limites de seus escritos. Ele afirmava que tanto Freud quanto Alfred Adler (1870-1937) haviam descrito fatos que correspondiam ao dinamismo psíquico de muitas pessoas. Da mesma maneira, Jung acreditava que existem aqueles que possuem outra psicologia, similar à sua. Em suas palavras: "Chego a considerar minha contribuição como minha própria confissão subjetiva. É a minha psicologia que está nisso, meu preconceito que me leva a ver os fatos da minha própria maneira. Mas espero que Freud e Adler façam o mesmo, e confessem que suas idéias representam pontos de vista subjetivos. Desde que admitamos nosso preconceito estaremos realmente contribuindo para uma psicologia objetiva"

Site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u342838.shtml

Ciúme primeira parte

Ciúme rádio segunda parte